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Abrir caminho a golpes de fígado para escapar do cemitério das letras. Conversa com Rui Lopo

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Para preservar o desejo hoje sentimos uma necessidade de fuga, de escapar aos ambientes onde o vazio é disfarçado com recurso a formas de pirotécnia, a essas redundâncias esterilizantes que tomaram conta dos modos de representação culturais, tendo-se permitido que os alicerces da literatura portuguesa apodrecessem, acelerando o esquecimento sobre o que foi feito antes para que os nossos generais de aviário pudessem beber a consagração até às fezes. Tem sido cada vez mais difícil desenvolver esforços no sentido de dissolver aquela estupidez tradicionalista que se instala como um bolor em torno das figuras que nos serviram magníficos desacatos, contrariando esses facilitismos e fábulas provincianas em que se aquecem os nossos recitadores medíocres. O passado e os mortos resistem às convenções museológicas, e estão ali aqueles artistas que melhor jogaram no sentido da carnavalização das suas próprias identidades, apontando a esse paralisante enredo narcísico que é hoje a primeira estrutura que é nessário demolir se quisermos prosseguir o esforço de desintegrar a realidade maciça e ruidosa que nos tem subjugados. É como se não fôssemos capazes, no curso normal da vida, de nos sabermos o órgão do tempo, os agentes do que se segue. Se queremos propor um recomeço, talvez devêssemos desde logo deixar de lado essa concepção piedosa da cultura, que se impõe sempre como uma forma de castração, um apelo à resignação infinita, propondo em seu lugar uma concepção positiva e que integre desde logo o imenso mal-estar que sentimos, permitindo elevar o registo dramático, conflitual, e dando expressão até a uma pura raiva contra tudo e contra todos. Por agora, e enquanto essa água morna continua a inundar tudo, resta reconhecer que não temos as condições para propor uma transformação profunda do ambiente ao nosso redor, falta um mínimo grau de solidariedade das consciências quando a própria noção do mundo é algo que nos divide em vez de nos animar a assumir uma busca e uma luta em comum. Os próprios livros parecem referir-se cada vez mais a uma relação que está ausente do viver comum ou que exprime uma nostalgia face a um idealismo ou ingenuidade perdidos. A nossa gramática cultural parece esvaziada de um propósito, impedindo-nos de firmar desejos e metas colectivas, e, assim, tudo parece destinado a desvanecer-se ensaiando poses irónicas ou sarcásticas para essa eternidade demasiado transitória ou degradante. A maior derrota que sentimos, contudo, é que quando alguém fala todos se põem a adivinhar a formulação que lhe irá sair, mas são cada vez menos aqueles que permanecem vigilantes, admitindo que possa ser a imprevisibilidade a falar pela sua voz. Somos assim derrotados pelas nossas próprias expectativas, e fica em causa o sentido mais profundo da amizade, aquela disponibilidade que, segundo Blanchot, passa pelo reconhecimento da estranheza comum que não nos permite falar pelos nossos amigos, mas apenas falar com eles, reservando, mesmo na maior familiaridade, essa distância infinita, essa separação fundamental que abre caminho a uma interrupção do curso mais banal dos dias. Neste episódio, juntou-se a nós Rui Lopo, um assumido "arqueólogo" literário, que se tem dedicado há bons anos a um trabalho de restituição e renovação do diálogo com alguns desses autores que nos deixaram exemplos mais proveitosos e encorajadores, alimentando o estado de vigília, e incitando em nós uma capacidade de avaliar e pôr em crise os símbolos do poder e os seus mais insidiosos condicionamentos.

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